Uma
vez definidos os conteúdos que serão trabalhados ao longo do ano e depois de
escolhidas as modalidades organizativas, como você viu nas reportagens das
páginas
anteriores,
chegou a hora de saber como usar a interação entre os alunos a seu favor.
Durante muito tempo, a garotada era obrigada a ficar em fila, uma carteira atrás
da outra. Felizmente, estudos e pesquisas didáticas mostram que determinadas
atividades, quando realizadas em grupos, trazem mais benefícios para o
aprendizado de todos. Mas essa forma de ambientação da classe precisa ser
pensada com antecedência para que os objetivos sejam efetivamente atingidos.
Divididos de forma adequada e sob a supervisão do professor, os alunos aprendem
na troca de pontos de vista, ganham espaço para criar e passam a testar
hipóteses, refazer raciocínios e estabelecer correlações, para construir
conhecimentos. "A discussão e a argumentação crítica também são elementos
constitutivos da aprendizagem", diz Silvia Gasparian Colello, pesquisadora de
Filosofia e Ciências da Educação da Universidade de São Paulo.
Segundo
os especialistas, a interação em classe é importante porque é muito diferente
para as crianças aprender com o professor (alguém mais velho, que domina os
conteúdos) ou com os colegas (que têm a mesma idade e um nível de conhecimento
mais próximo). "O grande benefício é essa troca horizontal", resume Regina
Scarpa, coordenadora pedagógica de NOVA ESCOLA e da Fundação Victor Civita. A
sala pode ser dividida em grupos de dois, três, quatro ou mais estudantes. E é
possível experimentar diversas combinações de grupos - inclusive numa mesma
aula. A condição essencial para definir essas divisões é, claro, o que cada um
domina e o que precisa aprender. "Os agrupamentos produtivos nascem quando os
estudantes têm habilidades próximas, mas diferentes. Assim, os dois têm a chance
de complementar o que já sabem individualmente e avançar juntos", completa
Regina.
Foi o pensador russo Lev Vygotsky (1896-1934) quem percebeu que as interações sociais são impulsionadoras do conhecimento, pois a aprendizagem só se consuma quando intermediada pelo outro. No entanto, esse embate com opiniões diferentes gera conf litos. Mas essas faíscas, longe de serem enquadradas como indisciplina, podem ajudar a melhorar a qualidade do aprendizado. Essa é uma das formas de ensinar estratégias de resolução de problemas, baseada no respeito e na solidariedade. O professor pode prever em seu planejamento explicações sobre o jeito de cada um administrar seu tempo, falar e olhar o mesmo assunto. E considerar que essa diversidade está presente em todas as salas de aula.
Foi o pensador russo Lev Vygotsky (1896-1934) quem percebeu que as interações sociais são impulsionadoras do conhecimento, pois a aprendizagem só se consuma quando intermediada pelo outro. No entanto, esse embate com opiniões diferentes gera conf litos. Mas essas faíscas, longe de serem enquadradas como indisciplina, podem ajudar a melhorar a qualidade do aprendizado. Essa é uma das formas de ensinar estratégias de resolução de problemas, baseada no respeito e na solidariedade. O professor pode prever em seu planejamento explicações sobre o jeito de cada um administrar seu tempo, falar e olhar o mesmo assunto. E considerar que essa diversidade está presente em todas as salas de aula.
Ao
assumir uma postura mais ativa, o aluno não só aprende como também desenvolve
valores sociais importantes: o respeito, a compreensão e a solidariedade, o
saber ouvir e falar. Conviver, relacionar-se com o próximo e trabalhar em equipe
são habilidades fundamentais para o mundo de hoje, dentro e fora da escola. E as
atividades em grupo permitem ao estudante acolher o ponto de vista alheio.
"Colocando-se no lugar do outro, o ser humano descobre que existem novos jeitos
de lidar com o mundo", diz Silvia. "E é dessa maneira que avançamos no
conhecimento." O
primeiro passo: conhecer as características dos alunos
Planejar
atividades em grupo exige que o educador conheça bem a turma com a qual
trabalha. As crianças, naturalmente, descobrem afinidades - mas nem sempre isso
tem a ver com os objetivos de trabalho. "Daí a importância desse trabalho de
identificar o momento em que cada estudante se encontra", afirma Adriana
Laplane, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e autora do livro
Interação e Silêncio na Sala de Aula.
Alternando
os parceiros de trabalho, todo aluno acaba por experimentar papéis diferentes,
sobretudo no que diz respeito à habilidade de ter mais jogo de cintura para
defender suas ideias e aceitar as dos outros. "Uma criança tímida pode se tornar
líder quando uma área que domina entra em jogo. Assim, o professor consegue
quebrar o esquema de forte/fraco da sala e faz com que todos tenham mais voz",
explica Adriana. Vale lembrar que é melhor agrupar crianças com perspectivas
diferentes sobre o mesmo assunto. "O ideal é mesclar características
complementares para que todos se ajudem e aprendam mais."
Mas é importante levar todos esses critérios em conta. "As escolhas livres, baseadas em afinidades afetivas, não podem ser a regra", afirma Maria das Graças Bregunci, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. "Se desejamos formações para o trabalho pedagógico efetivo, as escolhas precisam ser intencionais e reguladas pela natureza da tarefa ou as competências diferenciadas dos estudantes", diz. Com isso em mente, não sobra ninguém sem parceiro. Só há interação de verdade com troca de conhecimento
Mas é importante levar todos esses critérios em conta. "As escolhas livres, baseadas em afinidades afetivas, não podem ser a regra", afirma Maria das Graças Bregunci, pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Universidade Federal de Minas Gerais. "Se desejamos formações para o trabalho pedagógico efetivo, as escolhas precisam ser intencionais e reguladas pela natureza da tarefa ou as competências diferenciadas dos estudantes", diz. Com isso em mente, não sobra ninguém sem parceiro. Só há interação de verdade com troca de conhecimento
Um
dos aspectos em que Olga Maria Cabral, professora do 6º ano na EM Virginius da
Gama e Melo, em João Pessoa, costuma pensar na hora de formar as turmas é o
tempo disponível para a atividade. Ela começa expondo os temas a tratar, discute
as linhas gerais e coloca os estudantes para trabalhar. Olga sabe é que para os
grupos funcionarem é essencial atentar para o modo como os jovens desenvolvem as
atividades. A interação não é a simples reunião de pessoas. São situações reais
de troca e parceria. Se o aprendizado não é compartilhado, não houve interação
de verdade.
Darli
Collares, especialista em Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, diz que a verdadeira lição de convivência proporcionada pela
interação é a perspectiva de ter de renunciar a um ponto de vista em favor do
trabalho comum. "Numa atividade desse tipo, todos têm de se comprometer a
realizar algo para o coletivo", ensina. É dessa forma que o aluno ganha
autonomia, começa a tomar decisões próprias e aprende a argumentar, sentindo-se
confiante para se posicionar em relação ao conhecimento - tanto quando está
sozinho como no meio do grupo.
Temas de História ou Geografia são bons exemplos para ilustrar essa diversidade. Ao tratar da escravidão durante o período colonial, é fácil encontrar textos, imagens e músicas com visões divergentes sobre o tema. Com a turma separada em trios ou quartetos, cada grupo pode discutir um aspecto do assunto, com base em uma parte do material disponível. Em seguida, a classe se reúne para discutir essas interpretações divergentes - e, com isso, abrir a cabeça de todos. Ao perceber a multiplicidade de abordagens, o jovem consegue observar melhor que cada um percebe o mundo do seu jeito.
"Melhor que evitar as discussões é aproveitar essas oportunidades para assimilar as diferenças e compreender e respeitar os colegas", diz Ana Maria de Aragão Sadalla, da Faculdade de Educação da Unicamp. Esses aspectos sociais são tão importantes quanto o conteúdo. Afinal, é preciso compreender que o simples fato de surgirem diferentes pontos de vista sobre um assunto não significa, necessariamente, que os alunos desenvolvam uma mudança conceitual e avancem na aprendizagem. Como escreveu a especialista argentina Mirta Castedo, "os conflitos que nascem nesse contexto nem sempre resultam em benefícios cognitivos". No entanto, não há dúvida de que esse tipo de interação entre os jovens gera, sim, condições para que (devidamente orientados e supervisionados) todos aprendam mais.
Divididos de forma adequada e sob supervisão, os jovens são confrontados com diferentes pontos de vista, criam e testam hipóteses, refazem raciocínios e estabelecem correlações. E assim aprendem mais. Nesse percurso, o fundamental é descobrir o que cada um já sabe para alcançar os objetivos.
Temas de História ou Geografia são bons exemplos para ilustrar essa diversidade. Ao tratar da escravidão durante o período colonial, é fácil encontrar textos, imagens e músicas com visões divergentes sobre o tema. Com a turma separada em trios ou quartetos, cada grupo pode discutir um aspecto do assunto, com base em uma parte do material disponível. Em seguida, a classe se reúne para discutir essas interpretações divergentes - e, com isso, abrir a cabeça de todos. Ao perceber a multiplicidade de abordagens, o jovem consegue observar melhor que cada um percebe o mundo do seu jeito.
"Melhor que evitar as discussões é aproveitar essas oportunidades para assimilar as diferenças e compreender e respeitar os colegas", diz Ana Maria de Aragão Sadalla, da Faculdade de Educação da Unicamp. Esses aspectos sociais são tão importantes quanto o conteúdo. Afinal, é preciso compreender que o simples fato de surgirem diferentes pontos de vista sobre um assunto não significa, necessariamente, que os alunos desenvolvam uma mudança conceitual e avancem na aprendizagem. Como escreveu a especialista argentina Mirta Castedo, "os conflitos que nascem nesse contexto nem sempre resultam em benefícios cognitivos". No entanto, não há dúvida de que esse tipo de interação entre os jovens gera, sim, condições para que (devidamente orientados e supervisionados) todos aprendam mais.
Divididos de forma adequada e sob supervisão, os jovens são confrontados com diferentes pontos de vista, criam e testam hipóteses, refazem raciocínios e estabelecem correlações. E assim aprendem mais. Nesse percurso, o fundamental é descobrir o que cada um já sabe para alcançar os objetivos.
TRABALHO
INDIVIDUAL
- Quando a atividade requer mais tempo para ser realizada
- Se o professor quer que o aluno evolua em uma capacidade fazendo uma atividade mais direcionada ao seu grau de aprendizagem específico
- Quando a atividade serve apenas para avaliar o grau de aprendizagem daquele aluno
TRABALHO
EM DUPLA
- Se é necessário aliar dois conhecimentos distintos para uma atividade, pode-se juntar alunos que possuam cada um deles
- Pode-se explorar as variações de níveis de aprendizagem para que os alunos evoluam juntos
- Quando as questões de gênero ou sociais geram atritos, o trabalho em dupla ajuda alunos diferentes a se relacionarem para chegar a uma resposta comum
TRABALHO
EM TRIO
- Estimula o aluno a ter firmeza para eventualmente insistir em seu ponto de vista, contra-argumentando com os colegas
- Um estudante fraco se aproxima de outro que sabe mais com a ajuda de um intermediário
- Na Educação Infantil, atividades com crianças de várias idades ganham com essa diferença de maturidade
TRABALHO
EM GRUPO (Quatro alunos ou mais)
- Quando a temática é abrangente, ele vale para que os alunos aprendam de forma mais complexa a dividir tarefas
- Pode-se exigir mais da capacidade argumentativa, já que o professor consegue montar grupos com alunos que tenham raciocínios bem diferentes
- Temas complexos e polêmicos se desenvolvem melhor quando o debate é ampliado
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