Orientações para um professor iniciante 1
Estou trabalhando no seu relato, tentando eleger alguns tópicos para discutirmos. De imediato, penso que, como sua maior preocupação é tornar seus alunos bons produtores e leitores de texto, poderíamos começar falando sobre a introdução de uma atividade em sua rotina diária: a leitura em voz alta. Essa é uma terminologia empregada no curso “Letra e Vida”, também conhecido como PROFA – você já fez esse curso ou tem conhecimento dele? Em outros lugares você ouvirá “Hora da história”, “Hora do conto” e outras coisas mais.
Essa prática diária traz, a longo prazo, uma série de benefícios para os textos dos alunos, pois pouco a pouco eles vão criando um repertório de bons modelos de textos. Quando as crianças ainda não lêem e escrevem convencionalmente, apropriam-se da linguagem que se utiliza para escrever (que é diferente da que se usa para falar) e também dos gêneros textuais, ouvindo alguém ler para elas textos onde a linguagem escrita é empregada de forma cuidadosa e primorosa.
Essa é uma atividade aparentemente simples, mas que requer alguns cuidados, como por exemplo:
- Inicie a aula sempre com uma leitura;
- Escolha bons autores da literatura, textos com qualidade literária, evite os de frases curtas e com linguagem simplificada demais;
- Ler é diferente de contar, por isso seja fiel ao que está escrito, leia para eles;
- Não se preocupe em transformar essa atividade numa exploração de vocabulário: deixe que as crianças “deduzam” o significado das palavras desconhecidas a partir do contexto; a interpretação também não é necessária nesse momento;
- Você pode ler um texto inteiro (uma notícia, um conto, um poema etc), desde que não seja muito longo, ou optar por um livro inteiro e ler um capítulo por dia;
- E, finalmente, essa atividade não deve levar mais do que 5 a 10 minutos da aula.
Condições a serem garantidas nas situações em que o professor lê para os alunos
Eu recebi esse texto da minha mentora Daniela Isabel Taipeiro do programa de mentoria que fiz na UFSCAR dirigido a professores iniciantes.
Foi muito importante participar desse programa, pois me deu uma segurança muito grande para arriscar com o novo, quebrar paradigmas que estavam muito enraizados em minha prática pedagógica devido à minha própria formação.
O meu objetivo era aprender como tornar meus alunos bons leitores e produtores de texto. Eram alunos do 4º ano do Ensino Fundamental e além de terem uma escrita muito precária, também não gostavam de ler. O que fazer? Como agir diante de um grande desafio e sendo uma professora iniciante?
A partir das reflexões, do diálogo e orientações que recebi da minha mentora tive um resultado muito significativo. Estarei postando aqui algumas das dúvidas que tinha e as orientações que recebi porque sei que serão úteis para quem está ingressando na carreira como educador.
Ler para os alunos
Quando o objetivo é ler para os alunos buscando garantir a semelhança com as situações sociais em que faz sentido ler para outras pessoas, é importante que o professor:
- Explicite sempre os motivos pelos quais deseja compartilhar a leitura com eles: porque o texto trata de uma questão interessante, porque conta uma linda história, porque é atual, porque está relacionado com um tema original, porque é divertido, porque é surpreendente, porque ajudará a classe a resolver um problema ou uma questão com a qual esteja envolvida.
- Demonstre que a qualidade do texto é o que motivou a sua escolha como algo que vale a pena ser lido: porque é interessante, instigante ou emocionante...
- Em se tratando de textos literários, evite escolher aqueles em que “o didático” – a intenção de transmitir um ensinamento moral, por exemplo – supere a qualidade literária, em que o texto é utilizado principalmente como pretexto para ensinar algum conteúdo escolar.
- Em se tratando de gêneros informativos, evite escolher textos com informações banalizadas, incompletas, distorcidas, simplificadas, supostamente escritas para um público infantil.
- Compartilhe com os alunos seu próprio comportamento de leitor experiente, mostrando-se interessado, surpreso, emocionado ou entusiasmado com o texto escolhido – relendo certos trechos, sempre que valha a pena ou seja necessário, como a passagem mais surpreendente da história, a parte mais complexa do texto, a questão central da notícia, entre outras possibilidades.
- Opine sobre o que leu, coloque seus pontos de vista aos alunos e convide-os sempre a fazer o mesmo – quer dizer, aja como qualquer leitor “de verdade”.
- Ajude os alunos a descobrir o significado do texto a partir do contexto, em vez de ficar explicando a toda hora as palavras que considera difícil.
- Ofereça elementos contextuais que conferem sentido à leitura e favorecem a antecipação do que o texto diz. Isso se dá quando por exemplo:
- Comunica aos alunos onde e como encontrou o texto;
- Mostra a eles o portador do texto: se for um livro, mostra a capa na qual lê os dados (título, autor, editora); se for um jornal, faz referência à seção na qual o texto aparece, procurando-a diante deles; se for uma carta, diz como chegou às suas mãos e a quem está dirigida etc;
- Oferece informações complementares sobre o texto, o autor, o portador: se o que vai ler é um conto ou um poema, lê também partes do prólogo do livro ou conta dados biográficos do autor, se é uma noticia, faz referência a outras notícias parecidas; se é um texto de uma enciclopédia, pode investigar o que os alunos já sabem sobre o tema.
Enfim, para que o professor possa saber quais são as melhores formas de trazer a leitura para dentro de sua sala de aula como algo atraente e interessante, talvez o critério mais eficaz seja o seguinte; agir com seus alunos como gostaria que seus professores tivessem agido com ele próprio para ajudá-lo a ser leitor interessado e disposto a “enfrentar” qualquer tipo de texto.
http://professoressolidarios.blogspot.com/2011/03/condicoes-serem-garantidas-nas.html
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